domingo, 6 de maio de 2007

Salário ou Amizade?


Teve um tempo que, na TV brasileira, um comunicador ocupava parte das tardes de domingo de milhões de brasileiros perguntando: é namoro ou amizade? A cena era composta por um auditório em sua maioria feminino e, no palco, duas criaturas que buscam encontrar o amor. Como não davam sorte em achar a alma gêmea na noite, em festas, no trabalho, na escola ou na rua, abriam mão da intimidade e acabavam expondo seus sentimentos mais juvenis por muitos lares brasileiros. Ao final de hora e meia de programa, uns se acertavam e outros, como convinha para o regozijo da arena, levavam um belo pé-na-bunda .

Pois bem, acordo um pouco mais tarde do que o usual neste domingo (foi assim ontem, também, o que posso considerar um indicador claro e incontestável do meu cansaço), lavo o rosto, escovo os dentes, xixi, água, e me vou para a frente do computador, navegar. A outra metade da casa dorme.

E ali bem na capa do Terra deparo com mais uma daquelas pesquisas universitárias britânicas bombásticas. Afirma Nick Powdthavee que estar com os amigos é mais valioso do que ter um salarião. Mais ou menos numa proporção um por R$ 30 mil. Ou seja, o especialista em Economia Comparada da Universidade de Londres prova estatisticamente o que aqueles encontros de final de tarde regados a risos e champagnes há tempos vinham nos causando: felicidade está em ter amigos.

Remeto-me ao ano 2006, logo ali na esquina, quando troquei Porto Alegre por Brasília. Foi tudo bem nos primeiros meses. Mas foi ficando tudo ruim de agosto em diante. O trabalho um sucesso, mas o coração apertado, sentindo falta de todos. Apesar de estar muito bem profissionalmente, preferi voltar. De mala e cuia, sem emprego, mas querendo estar simplesmente com eles, os amigos.

Não acho que atingi o nirvana. Estou, cinco meses depois do retorno, trabalhando e muito de novo. Mas pequenos acontecimentos como o que ocorreu no meio da tarde de sexta, quando entre uma reunião e outra sentei por alguns minutos para celebrar a vida com a Lilia, que havia ido me ver, nos enchem de felicidade. Ou as quase duas horas que passei conversando com outra Adriana, amiga do meu primo e que é professora no Instituto Santa Luzia. Aprendi nesse encontro inusitado como a arte muda a vida de quem não vê. Felicidade. Mais uma vez.

Então, sem deixar de dar valor ao dinheiro (sem ele os encontros não seriam regados a champagne, afinal!), folgo em saber que sou feliz porque tenho amigos. Assim como boa parte dos 8 mil londrinos entrevistados por Nick e que ganham em média 10 mil libras esterlinas.

Concluindo: "As atividades sociais tendem a requerer nossa atenção enquanto elas estão sendo vivenciadas e, portanto, o prazer decorrente delas dura mais tempo na memória".

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